Manifesto /
“Somos encontros. De águas, fluidos, gentes, canções, culturas, ancestralidades. Nem todo peixe nem toda mulher, transcendemos nosso corpo e nos espalhamos por todos os lados. Somos um grande mar, num movimento fluido e contínuo, atravessando e atravessando barreiras, indo de encontro a outras águas. E é aí que entendemos nossa essência e força, pois é no encontro de outras águas que nos tornamos imensos. Mutantes, efêmeros e eternos, aprendemos a submergir e subverter. Existimos, resistimos e ardemos como águas-vivas para nos fazermos presentes.
Nascemos para abrir caminhos e contar as nossas próprias histórias, mergulhando e bebendo no que se entende por arte, sentindo nas entranhas que ela agora faz parte de nós, e nós, que desaguamos em vários rios, agora fazemos parte de tudo.”
Este zine é, antes de tudo, um trabalho pessoal, partindo de um desconforto sobre a representação e o olhar para a região Nordeste do Brasil, e para as pessoas que vivem aqui.
“O sertanejo é, antes de tudo, forte… com a triste aparência de um inválido enfraquecido” Com esta frase Euclides da Cunha abre o capítulo sobre o “sertanejo” em seu livro “Os Sertões”.
A ideia central do projeto foi traduzir e brincar com o contraste na forma dos materiais e da escrita, trazendo a leveza de uma tipografia quase ilegível, em contraste com a robustez de um bloco de texto condensado, ocupando o centro da página de uma forma muito dura e rígida. A ideia também era trazer contraste nos materiais, imprimindo algumas das páginas em papel bem fino, e às vezes rasgando-as, para cobrir ou caber nas páginas seguintes.
A obra foi impressa essencialmente em vermelho – cor inspirada nas falésias, pedras enferrujadas ou avermelhadas muito comuns no nordeste brasileiro. (todas as fotos são de viagens e arquivos pessoais). A imagem da pedra ilustra muito bem a ideia de algo visto e descrito a princípio como grotesco e feio, mas quando visto de perto fica claro que são formas de grãos, e inúmeras camadas de outros materiais.
No processo, retalhos de papel foram usados para criar os principais letterings e potencializar a ideia de negação com essa visão do nordestino.